NOTA DE FALECIMENTO - BORIS FAUSTO

A Anpuh-Brasil compartilha a nota de pesar pelo falecimento do historiador Boris Fausto produzida pela FFLCH-USP e manifesta seus sentimentos à família, amigos, colegas e alunos do professor.

Nota da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

Boris Fausto (1930-2023) nasceu na cidade de São Paulo, filho de uma família de imigrantes judeus, romena por parte de pai e turca por parte de mãe. Toda a sua formação acadêmica e profissional foi realizada na USP: em 1953, bacharelou-se em Direito e, em 1966, em História. Atuou como assessor jurídico da USP ao mesmo tempo em que pesquisava e produzia como historiador. Em 1970, publicou o clássico A Revolução de 1930: história e historiografia. Na coleção História Geral da Civilização Brasileira, organizada por Sérgio Buarque de Holanda, foi o coordenador dos volumes dedicados ao Brasil Republicano. Publicou ainda Crime e cotidiano: a criminalidade em São Paulo (1984), Historiografia para a imigração em São Paulo (1991), História do Brasil (1994, Prêmio Jabuti 1995), Negócios e ócios: histórias da imigração (1997, Prêmio Jabuti 1998), Fazer a América: a imigração em massa para a América (1999, Prêmio Jabuti 2000) e Brasil e Argentina: um ensaio de História Comparada (com Fernando Devoto, 2004). Em 2001, tomou posse na Academia Brasileira de Ciências. Toda a produção aqui referida, além dos prêmios merecidamente obtidos, bastaria para consagrar Boris Fausto como um dos maiores historiadores brasileiros. Além de tudo, Boris Fausto foi um pioneiro em sua contribuição aos estudos sobre as classes trabalhadoras. É em seu livro Trabalho urbano e conflito social, de 1977, originalmente apresentado como tese de Livre-docência à FFLCH, que pela primeira vez os estudos de Edward Thompson são referidos no Brasil. Onze anos depois, Boris Fausto volta a contribuir decisivamente nas reflexões acerca dos trabalhadores em seu artigo “Estado, trabalhadores e burguesia (1920-1945)”, publicado na revista Novos Estudos, do Cebrap. No primeiro caso, Fausto reflete sobre o comportamento dos trabalhadores compreendendo-os de forma a não os julgar, como era comum em parte expressiva da literatura sobre o tema à época. Referindo-se ao “trabalhismo carioca”, também chamado de “sindicalismo amarelo”, Boris Fausto adverte que “é difícil aplicar o rótulo [de burocratas sindicais, aos] homens de cor, com um aspecto desajeitado de plebeu”, que compunham aquele campo político. Enfim, na linhagem thompsoniana, toda consciência é verdadeira, à revelia da forma como ela se expressa. Aqui, o pioneirismo de Fausto é inquestionável. No segundo caso, o historiador discute e polemiza com uma produção acadêmica que começara a aparecer na virada dos anos 1970 para 1980, relativista dos marcos históricos consagrados e doutrinária nos novos marcos por ela inventados. Acusadores de “verdades” e inventores de “verdades” que apenas expressavam os desejos de suas filiações políticas. É, de fato, difícil abarcar todo o contributo de Boris Fausto para a produção historiográfica brasileira: das articulações e disputas que levaram à Revolução de 1930, dos processos migratórios, do cotidiano da gente pobre paulista ou do comportamento operário. Cada um desses trabalhos é ímpar e leitura obrigatória para todas e todos que pensam o Brasil do século 20. Toda a geração que veio a seguir a Boris Fausto é dele devedora. Muito obrigado, professor.

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Universidade de São Paulo